segunda-feira, 29 de abril de 2013

Versão Impressa - SVC NR 5 MAIO



Queridos leitores,

Já está no ar o número de maio com a seleção de abril (baixar aqui). Esperamos que gostem. Todo e qualquer comentário é bem-vindo. Deixe-nos saber o que podemos fazer para que este espaço fique cada vez mais especial. Não se acanhe: perca a vergonha de contar!

Abraços letripulistas,

Helena e Michele.




sábado, 27 de abril de 2013

Retorno




Manhã cedinho. Céu azul, sol brilhando, mar verde e convidativo. Ela foi entrando mar a dentro enquanto pensava na vida.
As desilusões acumulavam-se. Nada dera certo ao longo do ano. Pessoas especiais haviam partido desta vida, deixando um enorme vazio. Outro alguém também havia partido, este para um outro endereço, abandonando-a com seus sonhos e planos. O emprego era medíocre, não se sentia feliz nem realizada com as tarefas que executava. Enfim, desastre total. Seu coração sangrava, sua alma era um desânimo só.
E o mar ondulante, verde, a chamá-la. Quase podia ouvir um canto de sereia, fosse ela um pescador, não teria resistido. Enquanto refletia, avançava a grandes braçadas. A praia, deserta. Não havia ninguém para vê-la, para ser testemunha, para salvá-la. Seria tão fácil, pensou. Bastava deixar-se levar pelas macias e refrescantes águas, e rapidamente tudo estaria acabado: tristezas, sonhos, fadiga.
Foi então que a magnífica beleza da paisagem chamou-a de volta. O brilho do sol, o azul do céu, a frescura verde do mar, a morna areia que a esperava na praia, os coqueiros. O instinto fê-la nadar de volta, com enorme e exaustivo esforço.
Continuava a pensar na vida, mas mudara o foco. Quanto aos que se foram para o outro plano, nada podia fazer a não ser sentir saudade. Mas estava em suas mãos mudar de emprego, buscando algo que a fizesse feliz e realizada, ainda que a um salário menor. Poderia também sair à procura de um novo amor, por que não? Ou apenas deixar-se encontrar por outro.
E aquele exercício extenuante de nadar de volta à praia, estranhamente deu-lhe forças. Corpo cansado, largado na areia morna, alma revigorada, resolveu sair ao encalce da própria vida.



Muito obrigada, Lucia, por participar mais uma vez deste nosso canto para contos, causos e coisas do tipo. Volte sempre!



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quinta-feira, 25 de abril de 2013

A Companheira



Por Helena Frenzel

É que no trabalho eu tenho que levantar um portão pesado como o diabo! Dizem que o diabo pesa; se é de maldade ou são os chifres, disso não sei não. Só sei que há meses eu vinha me queixando dessa dor mas nada do chefe me liberar. Vim assim mesmo. Me operaram e acharam um caroço do tamanho de uma moeda de 1 Real; era benigno. Agora que eu vim ele está zangado, mas tanto faz! Cinco Sextas-Feiras-Santas mais e posso me aposentar. Se quiser me mandar embora vai ter que pagar caro. Nem seria pouco pra ele, que eu sei. E eu nunca faltei, nem nunca fiquei doente, essa foi a primeira vez. Trabalho com montadores, sabe, homens, peões. Por isso meu marido outro dia me disse que já está em tempo de eu deixar esse trabalho, antes que ele me embruteça demais. Não lhe dei ouvidos. Aliás, não ouço ninguém, nem mamãe. Espere aí que vou atender ao telefone. Scherer! Ah, bom dia! Sim, me operaram ontem e tiraram um caroço do tamanho de... Era mamãe. Já disse ao meu marido que ele não pode me matar nem dar sumiço, mamãe não passa um dia sem me ligar e já estava preocupada. É que só ontem à noite me liberaram o telefone,  você sabe. Vi que gosta de contos. Prestei atenção no que estava lendo ontem quando vieram me visitar. A que veio à tarde é minha filha. Meu marido e a netinha vieram depois. Uma graça, não é verdade? Toda noite jogamos cartas após o jantar: buraco, mau-mau, essas coisas. Ah, telefone outra vez, deixa eu ver quem é. Scherer! Ah, isso mesmo, ontem me passaram uma faca e tiraram uma moeda de 1 Real. Prata não, de ouro... Minha companheira de quarto é um anjo, tão boazinha, a qualquer momento parece que vai voar... Era a minha irmã que mora na Suiça com a família e todos quiseram falar. Nossa família é bem unida, sabe, na próxima semana é aniversário de mamãe e virão todos: 90 anos! Espero que até lá eu já tenha tido alta. Telefone outra vez! Quem será? Scherer! Sim, ainda aqui. Abriram minha barriga e acharam 1 Real. Se eu havia comido? Não, só um caroço, e benigno, tudo culpa do portão. É,  agora ele vai ter que contratar mais alguém, muquirana... Colegas de trabalho, todos querem saber de mim. Sou muito querida, sabe, não sei o que meu chefe fará sem mim nas próximas semanas. Não fosse aquele portão pesado como o diabo, há meses vinha sentindo dor, já lhe disse. Ah, quando o médico vier de novo vou perguntar quando terei alta também;  e essa dor que não passa! – tossiu um pouco – Atingiram minhas cordas vocais com a anestesia geral, os tubos. Incomoda se eu ligar a TV? Não, essa janela lhe distrai muito. Não sou de ver TV, prefiro livro, se bem que esse que eu trouxe aí ainda não tive tempo de pegar pra ler. Ah, e trouxe uma lã nova também, um cachecol que estou fazendo para o bazar do Natal. Bonita, né? E vai ficar bonito pronto. As turcas já usam esta lã há muito tempo, é rapidinho enquanto se tece um cachecol. Ah, eu adoro bolsas! Tenho de tudo em quanto é tamanho e cor, combinando com os sapatos, claro. E os lenços, nem lhe falo: estive em Roma e comprei muitos, para alegria dos ambulantes locais. Fui com as mulheres católicas da Ordem do Coração de Jesus. Sim, mas de que mesmo lhe operaram? Pelo visto não está com dor como eu, nem posso me mexer, ai. E minha filha recebeu benção do Papa, já lhe disse?
Neste momento entra no quarto a enfermeira do plantão; o estado da paciente da cama ao lado da janela rendeu intensos minutos, reticências e várias interrogações. Não adiantou muita coisa, ela não pôde ser reanimada. Estava morta há duas horas mais ou menos, poucos minutos após ter sido autorizada a deixar o hospital.

Aqui, um áudio para este texto.




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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Canto de boca



Por Ana Lourdes Pereira

Era uma tarde quente na acolhedora e pequena cidade. O motivo da nossa visita à casa da vovó era o aniversário do tio caçula, o preferido dos sobrinhos. O legal das reuniões de família além do reencontro, das festas de três dias e das piadas sem graça do vovô, era conhecer parente seu que você nem sabia que existia. E aquela menina era linda!
Com um corpo violão e um sorriso constante, Rafaela foi apresentada por tia Helena que explicou qual era a parentela entre eu e a moça, o que não me prendeu tanto a atenção quanto seus olhos cor de mel. Com meus míseros 19 anos e quase sem experiência, me conformei como mais um admirador de Rafaela. Sem deixar de mencionar sua simpatia e carisma.
Ao perceber que aquele era o primeiro dia da festa, comecei a fazer planos para conhecer Rafaela melhor. À noite a cidade não tinha muitas opções de entretenimento, os tradicionais sentavam à porta e se atualizavam das novidades do dia. Com essa deixa, chamei minha mais recente prima pra tomar um sorvete. Acreditem, ela aceitou, e nossa noite foi ótima, recheada com gargalhadas e aproveitamos o tempo para conhecermos melhor um ao outro.
Rafaela, menina doce e feliz de 19 anos, estudante de Medicina Veterinária, sua paixão. Eu, feio Luiz, 22 anos, cursando Geografia. Morávamos em cidades diferentes, uma distância de 913 km, um romance entre nós era quase impossível. Mas um amor de verão não faz mal a ninguém!
Rafa era prestativa e disposta a ajudar, ou seja, sempre estava na cozinha ajudando tias, mães e avós a fazer deliciosas comidas para todos. O tempo que tínhamos para estar juntos era curto, mas aproveitamos bastante. Na segunda noite fomos a um pub aconchegante, cheio de jovens bêbados e ‘felizes’. Naquela noite tomamos só refrigerante, mas conseguimos já montar um perfil da vida de cada um.
Em um determinado momento, falávamos sobre emoções e a influência delas na vida das pessoas. Estávamos vivendo um clima ótimo, foi quando começou uma música romântica no restaurante e naquele minuto experimentei o beijo de Rafa. Era exatamente do jeito que eu imaginava ser. Lábios suaves, gosto único, com meus olhos fechados lembrava o quanto Rafaela era linda e encantadora e quem sabe se não formaríamos um lindo casal? Tenho certeza que Tia Helena aprovaria.
Quando o beijo acabou, nos olhamos e demos um sorriso de canto de boca, como amei aquele sorriso! O nosso pedido chegou, comemos e pedimos sobremesa. Mais beijos aconteceram. Me senti um rapaz muito feliz naquela noite. Voltamos pra casa de mãos dadas e percebemos que nosso romance já não era secreto pra ninguém. Começaram então as brincadeiras de “como vai ser o nome do filhe de vocês” e “quero ser madrinha!”, nós dois ríamos numa linda sintonia de deixar muito casal de namorados com inveja.
E o último dia da festa começou, o almoço principal aconteceu, presentes foram dados, discursos foram feitos e lágrimas rolaram. Chegou a hora de se despedir, não só de Rafa, mas de todos. Abraços, desejos de felicidade e um beijo final de despedida. Planos que duraram só uma noite mas ações em três dias que muito valeram a pena. O melhor amor de verão da minha vida.

Ana Lourdes Pereira tem 18 anos, estuda Comunicação Social/Jornalismo e mantém o blog A Bela Esclarecida.

Ana Lourdes, muito obrigada por participar em nosso blog. Continue investindo em sua escrita e volte a nos alegrar com seus textos por aqui.

Helena e Michele.



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domingo, 21 de abril de 2013

Sem Vergonha de Contar – Nosso Blog de Contos e Causos



É que a gente conta tanta história que eu ainda não havia sentado para contar a do nosso blog, o Sem Vergonha de Contar, com esse nome tão ‘arteiro’ e a sigla ainda mais: SVC.
É que é uma história muito óbvia: duas amigas compartiam o mesmo gosto e se uniram para compartilhá-lo, daí foram vendo que mais gente gostava do mesmo e foram chamando esse povo para brincar também.
Que eu gosto dos textos e da escrita da comadre Michele não é segredo pra ninguém. Nos conhecemos há tempos, num outro site onde começamos a perder a vergonha de publicar nossos rabiscos. Sabe essas coisas de afinidade que não têm uma explicação lógica? Pois bem, isso foi o que aconteceu: ela lia os meus textos, eu lia os dela e as idéias sempre brotaram entre nós. Quando eu vi a série da Campina, achei que era uma pena deixar só naquele site. Daí propus a ela: “Comadre, quer que eu te monte um blog?” E ela: “Claro, mas só se for pra nós, juntinhas. E aí, vai topar?” “Topo!” e em agosto do ano passado a primeira postagem já estava no ar.
Pra quem tem já o costume de lamber bits e bytes, montar um blog é rapidinho, mas houve um certo planejar porque queríamos ter um canto aconchegante para receber pessoas comuns com o mesmo gosto por contos e causos e ao mesmo tempo oferecer bons textos, bem escritos, enfim: não era qualquer coisa que queríamos publicar. 
E a coisa foi evoluindo até que criamos uma página numa rede social (Deus me livre Cruz credo Virgem Maria que ali é a casa do cão! – ouvi dizer) e o que mais tem nos agradado são as trocas que temos tido, os convidados e as reações. Sem falar no ‘jornalzinho’ em PDF que eu preparo com tanto carinho e sei que longe, longe chegam as letrinhas despretensiosas ali guardadas com efeito todo especial: levar as pessoas a perderem o medo da leitura dos contos e causos e da arte de contar.
Sim, mas por que Sem Vergonha de Contar, o título? Foi a primeira idéia que me surgiu, sugeri à comadre Michele e ela gostou também. Resultado: Sem Vergonha se batizou. Se bem que esse título já foi mal interpretado, uns levaram para o outro lado dos podres mal-falados que muita gente espalha por aí, ainda bem que passou de retro, e a idéia de perder a timidez diante dos contos foi o sentido que ficou.
Pois é, há tempos eu não escrevia e hoje deu uma vontade de contar... Vez em quando baixa um santo ‘contador’ que só arreda pé com a coisa pronta: os números na planilha ou a história no papel. Vixe Maria Misi Fi que o santo foi embora, o texto e a história ele deixou sem revisar... Pecado! Uma conversa, uma prosa, um papo, o gosto doce do ‘contado’ e a alegria de contar: pruceis.

Diga lá, Michele: É mentira?

E amanhã tem conto de convidado. Perca não.




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