quarta-feira, 4 de junho de 2014

O Causo do Rádio


Por Helena Frenzel

Diz a lenda, lá em Fufu Lalau, que foi mais ou menos assim o causo: Mariazinha morava com a tia Noca e um dia quis passar um tempo na casa da Dina, uma tia que vivia numa outra cidade. Tia Noca brigou e brigou, foi do contra, moveu céus e infernos e que a Mariazinha fosse com a Dina ela não ia permitir! Mariazinha via na tia Noca um modelo de mulher arretada, mulher de fibra e de palavra estava ali. Mas a Noca era doidinha para ter um rádio e sonhava com o dia em que o dinheirinho desse para comprar um. Já a Dina tinha mais recursos e até um rádio, havia acabado de comprar um segundo modelo mais caro e de última geração. Mariazinha queria ir com a Dina era mais pela chance de ver o mundo um pouco mais largo do que as esquinas de Fufu Lalau, coisas de jovens, apelos da novidade. Mas Noca não ia deixar nunquinha, nem por cima do seu cadáver! Ao que Dina pensou um pouco e achou uma solução: “Quer ver como ela deixa tu vires comigo? Dou meu rádio velho pra ela e se acaba a confusão...” Mariazinha não acreditou na história e não quis crer na reação de Noca, mas foi só a Dina falar no rádio que ela logo amoleceu: “Se for pra passar só uns tempos... então vai!”. Mariazinha ficou de boca aberta ao ver que Dina tinha razão, Nora se vendera pelo rádio velho, e aos pés de Mariazinha ficou o corpo do mito no chão e os cacos do mundo caído, correu a arrumar suas coisas e foi com Dina viajar, aprender o mundo. Voltou pra Fufu Lalau mas nunca mais viu a tia Noca com os mesmos olhos e desse rádio em diante passou a prestar mais atenção nas letras do que nas músicas, pra não se deixar enganar nem pela Noca nem pela Dina nem por ninguém mais!

Então, o que parece que acontece na Bruzundanga, é que como a tia Noca há muitos por lá, que quando vêem um rádio, um carro ou uma bola são capazes de esquecer tudo o mais. E tem gente, que como a Dina, sabe disso e se aproveita, e se aproveita muito bem. O causo é que a Mariazinha, depois que foi com a Dina, nunca mais conseguiu ver a gente fufulalina com o mesmo olhar, pois que se vendiam fácil por qualquer bola, e aí o problema não foi nem a bola nem o rádio, o problema foi e continuará sendo a falta de moral.

“J’accuse!”



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2 comentários:

  1. Legal, Helena. Gostei da música e do ritmo, parece mesmo uma cantiga.

    E estamos agora de Maria para Maria - aliás, ela me disse que está com saudades tuas...:)

    Abraços e parabéns pelo texto!

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  2. Afe! Pois não é assim mesmo? Cada um tem um preço, alguns são trocados, outros, uma vida. Adorei o causo, beeeeem realista, digamos assim! Beijos comadre!

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