quarta-feira, 15 de junho de 2016

Dos ditos e suas origens: pôr a mão no fogo por alguém


Por Helena Frenzel

Rolf-Bernhard Essig contou-me, em um de seus livros, a origem da expressão "pôr a mão no fogo por alguém". 

Dizem que se passou o seguinte: no ano 508 d.C. a cidade de Roma se encontrava sitiada pelos Etruscos. A coisa não estava favorável aos romanos, de modo que, numa noite, um jovem corajoso chamado Gaius Mucius conseguiu escapar do cerco e aproximar-se da tenda do rei etrusco. Ficou por lá quietinho esperando uma oportunidade para pôr em prática o seu plano. Num certo momento, dois homens saíram da tenda, um deles fez um pagamento ao outro. Como Gaius não sabia qual dos dois era o rei, decidiu atacar com sua espada o homem que havia dado o dinheiro. Ledo engano: era o tesoureiro. Gaius Mucius foi preso e mais tarde, diante do rei Porsenna, admitiu que queria matá-lo para livrar sua cidade do cerco. 

O rei se surpreendeu com a ousadia do romano e perguntou: "Escuta aqui, vocês romanos são todos assim, corajosos?" Em vez de responder logo, Gaius Mucius esticou a mão direita e alcançou a chama de uma vela que ardia bem à sua frente e ficou aguentando a queimadura sem dar um pio, ao final retirou a mão e disse: "Todos os romanos são corajosos. Eu sou apenas um dos mais de trezentos que estão só esperando uma oportunidade pra te matar, ó rei". 

O rei, diante daquele gesto, ficou com muito medo, mandou soltar Gaius e desistiu do cerco. Os romanos receberam Gaius como herói e passaram a chamá-lo "Scaevola", que significa "Mão esquerda", a mão que não tinha marcas de queimadura. Por causa desse episódio dizem que surgiu a expressão "pôr a mão no fogo por alguém". 

Porém, Rolf nos informa que essa expressão teve também suas origens nas práticas religiosas medievais. As pessoas, naquela época, costumavam considerar sem culpa quem conseguisse meter a mão no fogo sem se queimar, se é que isso é possível. E na Bíblia há também o relato de uma prova que se pode fazer para testar a pureza de certas coisas: o que for ouro brilha no fogo, já o que for palha... Então quando alguém acreditava piamente na inocência de outra pessoa, poderia "colocar a mão no fogo" por ela. 

As coisas em Fufu Lalau estão cada vez mais „medievais“, por isso não me surpreenderia se logo voltassem a queimar livros e pessoas (principalmente as mulheres, consideradas as „bruxas“ de sempre) em praça pública. Sim, mas bom mesmo seria se a tal da "justicia" passasse a fazer o teste da mão: "Vossa Excelência põe a mão no fogo por sua inocência, põe?" Menino, e se as  „excelências“ pusessem as mãos, se tivessem pelo menos a coragem… seria o maior churrasco que Fufu Lalau já viu!

Referência: Rolf-Bernhard Essig (2011): Alles für die Katz - Die lustigen Geschichten hinter unseren Redensarten, Hanser, Munique.




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